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Podemos repensar a sociedade de consumo

Já sabemos, há algum tempo, que o mundo consome muito, e não há sinais de que o padrão esteja sendo quebrado tão cedo. Talvez tenhamos que fazer pequenas mudanças em nossos hábitos pessoais, que podem gerar efeitos perceptíveis

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Quem discordaria da máxima de que a sociedade de consumo ocidental está fora de controle? Desde a geração excessiva de resíduos e poluição ambiental, até as emissões de carbono causadas pela fabricação de artigos que não precisamos, mas que mesmo assim compramos. Sem mencionar as condições de trabalho perigosas, a pobreza laboral e até mesmo as formas de escravidão moderna, presentes nas economias, e que possibilitam a produção de bens de consumo mais baratos para os consumidores. Por isso, o grande boom de consumo tem uma imensa responsabilidade a ser considerada.

E ninguém está se precipitando ao assumir a responsabilidade por todos os efeitos ruins que esse tipo de consumo causa. Sabemos que os consumidores do mundo todo geram, pelo menos, 3,5 milhões de toneladas de plástico e de resíduos similares por dia, e que pelo menos 8 milhões de toneladas de plástico são jogadas no mar a cada ano. Mas, para a maioria das pessoas, essa é responsabilidade pode ser terceirizada.

Sabemos também que, segundo dados da consultoria McKinsey, são necessários cerca de 23kg de gases de efeito estufa para fazer apenas 1kg de tecido, e que pelo menos 50% dos artigos de moda rápida (a chamada Fast-Fashion) são descartados no prazo de um ano. Mas será que as pessoas deixariam de consumir roupas baratas? Na verdade, a maioria dos consumidores nem sequer reflete sobre isso.

De quem é a responsabilidade?

Será que, em uma era de grandes compromissos sustentáveis por parte de empresas e governos, as pessoas são tentadas a acreditar que todos os efeitos de consumo excessivo estão sendo administrados por outras pessoas? Então, como indivíduos, não há muito com que se preocupar? Afinal, que diferença faz utilizar mais um saco plástico, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 5 trilhões são usados a cada ano?

Mas, se não conhecemos o impacto que a diferença que nossos hábitos podem gerar, seria bom passarmos a identifica-los. “Consumo e produção sustentáveis”: este é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que afirma que o consumo sustentável é alcançável se encontrarmos maneiras de fazer mais, e melhor, com menos.

Talvez, uma abordagem possível para esta questão seja a de se inspirar no conceito de atenção. Em outras palavras, significa ter consciência de onde estamos e o que estamos fazendo. E, traduzindo isso para o nosso padrão de comportamento, seria pensar cuidadosamente sobre como gastamos e consumimos, levando em consideração os efeitos reais desse consumo.

As pessoas podem fazer a diferença

Um bom ponto de partida é a lista de tendências críticas que a ONU destaca no âmbito do Objetivo de Consumo Sustentável. Ela aponta que o transporte é o que mais contribui para as emissões de carbono, seguido pelo uso de energia elétrica. Além disso, demonstra que a agricultura e os têxteis são os maiores poluidores de água limpa.

Todas estas são áreas onde os indivíduos podem fazer a diferença. Então, por que não deixar o carro em casa quando se pode pegar um ônibus ou, melhor ainda, uma bicicleta? Por que não se preocupar com a redução do consumo de energia elétrica em casa, ou ainda trocar as lâmpadas ineficientes, em sua residência, para contribuir com isso? E, se você habitar lugares frios, por que não investir em um sistema de isolamento térmico que não dependa de energia elétrica?

Mas estas são atitudes que marcam apenas o começo. Que tal mudar algumas coisas mais fundamentais sobre a maneira como você gasta? É realmente necessário sair todos os dias com o cartão de crédito pronto para uso? Ou ainda, consumir roupas e alimentos que tenham viajado o mundo? Isso porque, muitos de nós temos o hábito de consumir produtos importados, lotando armários com itens que vieram de origens longínquas, o que gera a necessidade de deslocamento por meios de transportes poluentes. No entanto, se procurarmos em lojas de produtos locais, será que não encontramos os mesmos itens?

A meta de desperdício zero

E se você ainda acha que estas são formas muito triviais de lidar com um problema tão grande, então considere adotar mudanças mais radicais no seu comportamento de consumo. Há uma comunidade crescente de pessoas que decidiram adotar um padrão de consumo responsável e reduzir a quantidade de resíduos que produzem a quase zero.

Isso certamente não é fácil. No Reino Unido, por exemplo, uma pessoa produz, em média, 463 kg de resíduos por ano. Na Alemanha são 609kg e, na Dinamarca 844kg. No entanto, os seguidores da filosofia de resíduo zero visam diminuir esse número médio para um quilo, ou até menos, por ano. Ou seja, os resíduos não recicláveis não devem ser mais do que o volume de um frasco de 240ml de geleia. Isso significa menos sobras que vão para os aterros sanitários – já que apenas 15% da maioria das formas de resíduos jamais são reciclados, tendo como destino os lixões a céu aberto. E isso significa, ainda, menos uso de água, bem como menos emissões de carbono provenientes da produção de embalagens e produtos de curta duração em primeiro lugar.

Neste contexto, pensando que a redução de resíduos para um quilo por pessoa, por ano, significaria uma diminuição média de 99,8%, se levarmos em conta os números europeus per capita atuais de produção de lixo, essa seria uma mudança revolucionária nos hábitos de consumo das pessoas e geraria um enorme impacto no meio ambiente. Mas, é claro, se todos seguissem o exemplo de desperdício zero e pensassem nas implicações ambientais de cada decisão que tomarem.

Há evidências de que existe tipo de redução existe. E, como dizem os seguidores da ideia de desperdício zero, a questão vai além do desperdício no sentido estrito da palavra. Envolve, também, outro tipo de desperdício, ou seja, o de dinheiro, tempo e bem-estar.