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20 palavras para um novo mundo: Herói

Uma série de palavras se infiltrou em nossa linguagem cotidiana este ano para descrever os novos tempos em que estamos vivendo. Pedimos a quatro grandes escritores – David Szalay, Rosie Millard, Paolo Gallo e Emma Dabiri – que escrevessem sobre algumas delas para nós. O texto de hoje é de Rosie Millard, apresentadora experiente, jornalista e autora. Ela foi correspondente de arte da BBC para adecade, âncora do The Sunday Times, colunista do The Independent e escreveu quatro livros. Ela foi presidente da Hull UK City of Culture em 2017, pela qual foi premiada com um OBE, e agora é presidente do conselho de administração da instituição de caridade BBC Children in Need. Ela escreveu sobre o significado de “Herói"

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Eles usam capa na vida real? Claro que não, mas desde que eu me lembro, heróis da vida real normalmente tem uma aura especial – ou eles normalmente conduzem milhares de pessoas à vitória contra um terrível inimigo. O Coronavírus mudou isso em um piscar de olhos. Primeiramente por ser um inimigo pervasivo e tão pequeno que não pode ser visto a olho nu. Depois porque, em termos de liderança mundial, houve uma espécie de vácuo.

Nossos líderes políticos não pareceram valentes. Seu alinhamento parecia tímido e com medo. Sua falta de imaginação foi desapontante. Eles não foram heróicos, eles hesitaram.

De qualquer forma, nós ainda precisamos de alguém para colocar no pedestal. Em uma crise, nós ficamos muito vulneráveis sem heróis. No início, pareceu certo conceder o manto do heroísmo aos médicos e enfermeiros, que foram à linha de frente e colocaram em risco suas próprias vidas para salvar a de outras pessoas. Eles não queriam ser vistos como heroicos. Eles não estavam realizando mágicas. Eles foram treinados para isso. Eles queriam ser vistos como profissionais e eficientes.

Ok, mas quem mais está lá fora? Pessoas que pacientemente se sentam nos supermercados atrás de uma placa de acrílico e cobram a minha compra são bastante heróicas para mim. Eles têm de lidar com a ansiedade geral e a urgência da situação experienciada pelo seu público rabugento. O mesmo vale para os garis e as pessoas que varrem as ruas. Eles colocaram suas viseiras e continuaram. Por isso não temos lixo espalhado por aí para aumentar o nosso problema.

Mas mais do que qualquer outra coisa, eu tenho sido testemunha da incrível generosidade de alguns heróis não reconhecidos e é a essas pessoas que eu dedico este texto. Eu sou presidente de uma grande entidade de caridade, BBC Children in Need, que comandou um programa de televisão para arrecadar fundos no começo da crise do Coronavírus. Nós arrecadamos mais de 80 milhões de libras graças à generosidade do governo britânico, de grandes corporações e do público. O dinheiro levantado está sendo direcionado a crianças e adolescentes que ficaram órfãos e estão assustados e isolados: vai ajudar jovens que não têm condições de seguir com os estudos e também crianças e adolescentes que estão sob o risco de abuso doméstico; vai ajudar aqueles que estão sem teto e aqueles que foram atingidos pelo colapso da economia; vai comprar roupas e sapatos para adolescentes.

Um dos meus gestos de muita gratidão foi agradecer pessoalmente cada uma das pessoas pouco divulgadas que, naquela noite, ultrapassou o reino da generosidade. Aquelas pessoas são meus heróis e eu escrevi para cada uma delas. Essas são pessoas que simplesmente digitaram seus dados bancários e ofereceram milhares de libras a crianças que eles nunca conheceram ou sequer viram. Eles são meus verdadeiros e extraordinários super-heróis e eu os agradeço: muito obrigada.