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Pneu de carro em moto? Nem pensar!

Prática que tem sido defendida nas redes sociais é um risco à segurança dos motociclistas

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Acustomização de veículos é uma prática que caiu no gosto do público brasileiro há alguns anos. E com as motos não poderia ser diferente, certo? Desde bandeiras até malas de couro, alguns tipos de modificações não alteram a estrutura da moto. Entretanto, nas redes sociais, é possível encontrar defensores de um tipo de modificação extremante perigosa: a substituição do pneu traseiro das motos por pneus de passeio de carro.

As justificativas para as trocas são quase sempre por motivos de preço e durabilidade. Entretanto, se colocarmos no papel todos os riscos, será que esse investimento realmente vale a pena?

Pneu é selecionado por vários critérios

Primeiramente, é preciso relembrar que um determinado pneu é selecionado para equipar uma moto levando em conta diversos critérios, como tipo de motocicleta, uso, peso, potência e custo. Todas as escolhas são feitas ao longo do desenvolvimento do projeto da moto, e é exatamente o pneu selecionado que proporcionará a melhor performance com máxima durabilidade e com o menor desgaste das peças periféricas (rodas, relação e freios, por exemplo).

Samuel de Santana Barbosa, Gerente de Desenvolvimento de Produto Moto da Pirelli, faz destaques importantes sobre o processo de homologação: “O pneu é um item que faz parte do veículo, que passa por uma série de testes. Todos eles são projetados especialmente para o veículo em conjunto com o projeto da motocicleta com a montadora”. Ele ainda reitera sobre a importância na condução: “A moto deve estar neutra durante seu trajeto. Independente se o percurso tem linha reta ou curva, subida ou descida... Quanto mais neutra sua direção e quanto menos você corrigir o guidão, melhor. O perfil é curvo, se você tem um pneu quadrado, como o pneu de carro, você fará correções nesse percurso”.

Perigos são constantes

Como já podemos imaginar, mudar o pneu original afeta bastante a motocicleta e pode gerar inúmeros problemas, como perda de conforto até questões mais complicadas que podem afetar a segurança do piloto, como vibrações, desgaste irregular do pneu e perda de agilidade. Portanto, a regra básica é seguir sempre as dimensões recomendadas no manual da moto.

“Quando falamos de perfil de pneu, estamos falando da curvatura da banda de rodagem. No carro ela é quadrada e na moto é arredondada. A moto precisa inclinar para fazer a curva, enquanto o carro permanece na mesma posição. O perigo não é apenas a questão da curvatura, mas sim a agilidade da manobra. Para desviar de um buraco você inclina para um lado e para outro. É fundamental ter agilidade e velocidade, e isso só é possível por conta do formato arredondado do pneu. Se você coloca um pneu quadrado na moto, ele vai bem em linha reta, mas se precisar desviar de alguma coisa ou inclinar a moto para o lado, terá uma resistência gigantesca, não dá tempo de desviar”, afirma Eduardo Zampieri Silva, Avaliador Especialista de Novos Produtos da Pirelli.

Samuel Barbosa completa relembrando outras informações técnicas a respeito das diferenças entre os pneus de carro e moto: “Todo pneu tem uma temperatura ideal de rodagem. E o de moto foi desenvolvido para trabalhar numa temperatura específica, que é diferente do pneu de carro. O talão – friso de encaixe na roda – é totalmente distinto, o que pode causar vibrações na rodagem ou até mesmo se soltar. O composto do pneu de carro também é diferente. Os pneus dianteiros e traseiros da moto são pensados conjuntamente, especialmente em piso molhado. O da frente corta a água e tira um pouco do excesso, trabalhando em conjunto com o traseiro. Ou seja, os desenhos são complementares e não podem ser separados”.

Falsa economia

Com tantos riscos, principalmente com a segurança do condutor, fica fácil perceber que, na verdade, o barato sai caro. A sensação de economia ao usar o pneu de carro em moto é falsa, já que a troca pode gerar um desgaste irregular do aro de montagem e de partes específicas do pneu, além de afetar até o consumo da motocicleta.

“A pessoa acredita que ganha na durabilidade do pneu, mas o pneu de carro é mais pesado, o que aumenta muito a área de contato do pneu com o solo e força mais a motocicleta. Consequentemente, gera o aumento de consumo de combustível, de desgaste de câmbio e da suspensão, gerando um custo maior de manutenção”, avalia Eduardo Zampieri.

Problemas com a seguradora

Bom, mesmo com todos os problemas destacados acima, ainda acha que a economia será maior usando o pneu de carro em moto? Então, devemos reforçar que a recomendação de um modelo específico de pneu vai muito além de uma questão comercial: no caso de um sinistro, a seguradora poderá negar a indenização por uso de componentes não originais na motocicleta. É um risco enorme e desnecessário, não é mesmo?

Não acredite na ideia da falsa economia. Sua segurança vem sempre em primeiro lugar!