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Seis livros para viajar em novas histórias

Assim como os carros, os livros podem nos transportar para um mundo novo de descobertas. Escolha o seu próximo título e dê partida rumo à nova história

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Quando o assunto é viajar os pneus fazem muito bem seu papel, nos levam em segurança para nosso descanso de férias, para casa ou mesmo para nosso trabalho no dia a dia. Mas já imaginou que as palavras de um livro também podem nos levar para lugares nunca vistos? Ou que nem existem! Esse é o poder da literatura, nos levar para um lugar diferente de onde sempre estivemos. Por isso, pensamos em uma seleção de seis livros escritos em língua portuguesa (de diversos países) para adentrar em novos mundos, dentre eles romances, contos e poemas. Agora não tem desculpa para não embarcar nessas viagens, têm poesias para os que leem com pouco tempo nas trocas de vagões de metrô, contos para os que descansam depois do almoço em uma rede e os romances para aqueles que antes de dormir adiam o sono em uma boa história. Só escolher e começar! 

POEMAS

MISERERE, ADÉLIA PRADO

“Miserere nobis” diz a expressão latina que, em português, seria traduzida como “tende piedade de nós”. Com o título que faz referência a esse ditado, a coletânea de Adélia Prado traz ao leitor um conjunto de 38 poesias que falam da passagem do tempo, de perdas e saudade. Unidos, tema e título fazem com que a primeira impressão que se tem é de um livro de tom melancólico. Porém, o que a autora entrega a quem a lê é justamente o contrário. Ao se lembrar de sua mãe, pai, avó e infância, ela mostra também a beleza que há na delicadeza dos acontecimentos mais cotidianos e também nos anos que correm. Evocando sua ancestralidade, Adélia nos recorda da graciosidade que há no envelhecimento, que, vez ou outra, pode trazer medo a quem o enfrenta. O que “Miserere” nos oferece, enfim, nada mais é do que esperança para apreciar os anos que estão à nossa frente.

AMARGOS COMO OS FRUTOS, PAULA TAVARES

Os poemas de Paula Tavares, reunidos em “Amargos como os frutos”, remontam um discurso e um debate sobre a voz feminina angolana em sua individualidade e corporalidade. São permeados por imagens da cultura local e das discussões sobre os estereótipos da mulher angolana, dos espaços que ocupa, da força, da delicadeza e dos temas plurais sobre a singularidade do “eu”. O tema da guerra aparece em seus poemas, principalmente o não regresso daqueles que partiram. Paula Tavares dialoga sobre a perdição do sujeito nos conflitos, dos impactos da colonização em seu país e das transformações que a cultura angolana sofreu. Porém, a autora trata de um assunto muito rico para diversas nações: a ancestralidade. E, principalmente, a ancestralidade feminina em um país africano tão rico culturalmente.

CONTOS

A ESTRUTURA DA BOLHA DE SABÃO, LYGIA FAGUNDES TELLES 

Entre medalhas e espartilhos, o livro “A estrutura da bolha de sabão” é uma coletânea de contos que são estrada direta para o mundo interior das personagens da autora. Os sentimentos, tão híbridos e fugazes quanto uma bolha de sabão, são uma espécie de fio condutor entre os contos, mesmo que tratem de temas tão diferentes. Em um dos contos mais famosos do livro, “Missa do Galo – variações sobre o mesmo tema”, a autora mostra um ponto de vista feminino para o consagrado conto “Missa do Galo”, do grandioso Machado de Assis. Com influências de grandes autoras brasileiras, como Clarice Lispector e Hilda Hilst, Lygia Fagundes Telles retrata o mundo feminino, mas também fala sobre questões inerentes aos seres humanos todos. A bolha de sabão, nos garante a autora na introdução do livro, é o amor. 

PAPÉIS AVULSOS, MACHADO DE ASSIS

Isolados, soltos e desconexos. Machado de Assis nessa reunião de contos nos entrega aquilo que o título sugere: uma coletânea singular de assuntos diversos, cada um com ganchos muito distintos uns dos outros. Machado, aqui, faz um vozerio. Se você é um leitor iniciante do autor a sugestão é que mergulhe em sua ironia e permita que as breves páginas de cada conto guiem a leitura de uma sociedade ainda tão presente nos dias de hoje. Aqui vemos as construções de personagens e seus aspectos morais e psicológicos que podem ser interpretados como contemporâneos mesmo com mais de um século desde sua publicação, como em “O Alienista”, por exemplo. Os temas da moralidade, da incoerência, das ironias cotidianas aparecem presentes nos contos machadianos desta coleção. Neles o que interessa é tudo aquilo que parece ser, mas não é.

ROMANCES

AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE, JOSÉ SARAMAGO 

E se a morte decidisse que não quer mais trabalhar? Essa é a pergunta que tenta responder Saramago em seu romance “As intermitências da morte”. Em um país não nominado, todos param de morrer assim que um novo ano começa. O que no início parece uma dádiva, acaba por se transformar em um tormento para aquela população. A Morte, então, surge como personagem e decide voltar ao seu ofício, dando aos humanos a chance de descobrirem com antecedência a data de sua morte. Porém, nem tudo sai como planejado e a personagem mais emblemática do livro precisa se aproximar mais do que gostaria dos humanos. Com toques de realismo mágico e seu humor único, nesse romance, Saramago enaltece, ao contrário do que possa parecer, as belezas da vida humana, que são capazes de surpreender até a responsável por colocar um fim nela. 

VIDAS SECAS, GRACILIANO RAMOS

Cíclico e áspero. Publicado em 1938, “Vidas secas”, de Graciliano Ramos, é uma das obras da literatura brasileira que nos permite observar o decorrer de uma história contada, não apenas como linear, mas cíclica e psicológica. Os capítulos, dispostos em forma não cronológica, contam os casos que uma família de retirantes do sertão nordestino enfrentou. Graciliano nos apresenta uma família retratada em sua máxima vulnerabilidade social. A história é crua e repleta de realismo: nos mostra um percurso que um dia foi o de tantos e que é atual ainda hoje. O romance expõe as discussões sobre miséria e os efeitos da seca no sertão brasileiro. Uma história áspera que nos convida a pensar no longo caminho que um dia tantos tiveram que fazer e no caminho que tantos ainda fazem em busca de uma vida melhor.