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Zanardi: O piloto? Uma pessoa que consegue atingir seu limite

O quatro vezes campeão olímpico, de volta às pistas em Mugello, explica o que são instinto e talento e como é possível aprender a controlá-los

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“Estive longe desse mundo por um ano, mas assim que dei a partida nesta M6, a adrenalina explodiu. A corrida de carros sempre guiou todos os demais aspectos da minha vida. A questão é tentar não guardar mágoas, mesmo contra aqueles que nos fizeram mal. Na vida, é estúpido negar [a qualquer pessoa] uma segunda chance".

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Zanardi: O piloto? Uma pessoa que consegue atingir seu limite

A voz no telefone, que expressa reflexões com o mesmo tom amigável e falta de pontuação característica de um amigo, é de Alex Zanardi, que, com a medalha de ouro olímpica do Rio no peito, está pronto para retornar para onde tudo começou: as pistas de corrida, as corridas, o controle dos motores. Marcado para 13 e 14 de outubro em Mugello, o evento em questão é a última etapa do Campeonato Italiano de GT, um dos mais de 300 campeonatos mundiais que usam pneus Pirelli. O “ciclista olímpico" pilotará uma BMW M6 GT3. Guiando-o em seu retorno às pistas está seu instinto, sua paixão. Os mesmos instinto e paixão que, por sua vez, ele sabe como controlar... como poucos.

Ao falar sobre “todos os demais aspectos”, o que Zanardi diz, na verdade, como se fosse pouco importante, é sobre uma realidade em constante movimento, que nunca descansa – uma realidade “curiosa”, como ele define. "Em determinadas situações, você se pergunta, ‘E agora?', sabendo que só é possível olhar para frente, porque não há possibilidade de voltar. Cabe a você entender o que realmente interessa, e aí é preciso ser aberto e decisivo ao mesmo tempo. Após meu acidente, eu não conseguia pensar em ser competitivo nem mesmo em um concurso de dança, por exemplo, mas quando você descobre aonde quer chegar e onde deixar sua marca, então você se torna uma máquina de guerra. Tudo fica mais fácil, e os sacrifícios não custam nada".

Antes de seu novo flerte com as pistas, para Alex, 2016 foi acima de tudo o ano de novos triunfos olímpicos. "Mas não entrei no ciclismo porque eu queria receber o agradecimento do Presidente da República. Só queria pedalar**". Sobre sua conquista de duas medalhas olímpicas, uma de ouro e uma de prata, no Rio, Zanardi trata disso na sua maneira relaxada e natural: "A torcida é legal, claro, mas o que importa é saber que você estaria feliz mesmo se a linha de chegada fosse em uma floresta, longe do público. Chega a um ponto em que as corridas tornam-se apenas uma desculpa para continuar fazendo aquilo que se ama fazer a semana inteira. A ambição é o combustível, mas tudo começa com a paixão".

Aquela paixão que, de acordo com Alex, é uma experiência sensorial muito antes de ser uma mentalidade: "Cedo ou tarde, acontece: você escuta algo e vira a cabeça naquela direção. Vamos dizer que se a paixão fosse uma planta a ser cultivada, sua semente teria muito mais a ver com seu caráter. Ela poderia levar uma pessoa à música, outra à pintura e outra ao esporte. E, nesse sentido, tenho a convicção de que o esporte é uma forma de ‘arte'”. Na abordagem zanardiana de instinto esportivo e de suas muitas e diferentes conquistas, o conceito de talento parece surgir antes do de força de vontade: "Acho que o talento natural contabiliza apenas uma pequena parcela. Todos nós temos talento suficiente para ter sucesso em qualquer coisa que quisermos na vida e aqui não estou falando apenas de esportes. Disso não tenho dúvidas". Então, não há o risco de que a admiração pelos campeões pode se transformar em inveja? "Nem todos podem ser um Lewis Hamilton, obviamente, mas todos podemos chegar perto dos nossos limites para atingir nossos objetivos".

Daqui a alguns dias, Alex Zanardi fará 50 anos. As rodas sempre foram o tema central de sua existência. No começo, eram as rodas de corrida. "Ou para serem invejadas", ele brinca. "Tive o privilégio de correr em muitos carros maravilhosos, mas tenho um pequeno arrependimento. Gostaria de ter utilizado pneus Pirelli na minha estreia na Formula 1® em 1991. Os pneus da temporada anterior eram incrivelmente competitivos e fiquei fascinado com a ideia de utilizá-los, mas a empresa saiu da F1® exatamente quando cheguei. Por sorte, estou revivendo aqueles anos".

Mas as rodas também representam ciclos, círculos que se fecham. Zanardi acredita que um retorno às origens de sua paixão faz parte de uma viagem maleável e única que visa o aprimoramento contínuo, pois ele tem tanto orgulho do seu passado quanto está focado no futuro. Alex Zanardi faz parte daquele tipo de homem que corre por natureza - volante ou guidão, não faz diferença: eles apenas permitem que o corpo se alongue para seguir cada vez mais rápido. "Tenho toda uma vida para viver e quero preenchê-la com algo a mais. As paixões nos tornam melhores pessoas".

“Volevo solo pedalare: ...ma sono inciampato in una seconda vita” (Só queria pedalar... mas esbarrei em uma segunda vida) é o novo livro de Zanardi, que será lançado em 13 de outubro.